Inscrições para as raças

"Nasci na capital do Império Otomano. Não, não sou filha de camponeses. Tampouco sou um aborto de alguma mulher do cabaré. Longe disso. Sou filha biológica da última princesa da linhagem Hunterfox do Império Otomano. O nome dela? Helena Hunterfox. Claro, antes de Hunterfox tem mais nomes, mas acho desnecessário dizer.
Sir Éron Percyval Luke Grings Loeser, meu pai. Sim, o nome dele vem completo. Ele sempre me disse para me apresentar assim e apresenta-lo também dessa forma. Apenas minha mãe que nunca fez questão de falar o completo nome dela. É realmente grande, maior que o meu. Mas, estávamos a falar de meu pai. Ele era um cavaleiro do reino, o mais fiel escudeiro do Rei. Um erro, com certeza, foi se apaixonar por minha mãe. Mas, era quase impossível não se apaixonar. Ela era linda com seus cabelos castanho-acobreados, longos, os olhos de um verde profundo e lábios pequenos. Feições delicadas. Com certeza, ela era apaixonante. Dizem que sou a cópia dela, apenas por fora. Internamente, ouço dizer que puxei ao meu pai, principalmente na teimosia e orgulho. Mas juro, é algo involuntário. Mas também, me sinto confusa... hora dizem que tenho a doçura de mamãe no olhar, e outras horas dizem que seria capaz de dilacerar um coração com ele. De qualquer forma, continuo jurando que é algo involuntário.
Meu pai também me treinou para outra coisa: me defender. No entanto, vamos continuar a contar minha história.
Não era para eu estar na Transilvânia, era para eu estar sendo educada pela minha mãe na capital do Império. Porém, quando eu tinha 16 anos ela foi morta. Ainda sinto meus olhos marejados ao lembrar disso. Ela morreu, meu pai a matou. Uma semana antes do fatídico dia, não sei como e nem por quem, ela fora transformada. Não podia mais sair à luz do sol, teria que viver eternamente na escuridão. Sim, uma vampira. Lady Helena Íris Cassandra Liven Élistor Hunterfox. Não disse que o nome dela era grande?
Enfim, Éron enfiou uma estaca no peito de Helena e para terminar, deixou que ela queimasse ao sol. Era para que eu tivesse uma mãe até hoje, mesmo sendo vampira, porém ela não resistiu e chegou a me atacar. Por sorte, a perícia de meu pai com armas me salvou. Eu deveria dizer sorte? Não sei se perder uma parte de si é uma sorte. Ainda lembro-me das faces rubras de minha mãe, os lábios de uma cor parecida com amora e o sol batendo em seu rosto sem machuca-la e deixando-a iluminada. Meu pai chorou tanto quanto eu, ou até mais. Ao menos eu não a vi morrer... Ele assistiu a tudo.
E foi a partir daí que ele começou a me treinar. Contratou Symon, meu mestre de dança com espadas para ajuda-lo também, afinal, meu pai ainda tinha que trabalhar. Mas as coisas não ficaram mais fáceis no Império Otomano. Eu poderia ter o sangue da corte real, mas reneguei a isso. Não sei por que, mas não sentia que aquele era meu lugar. Havia algo a mais nos reinos vizinhos que me chamava atenção.
O estopim para que eu fizesse a minha escolha de sair da capital do Império e ir para Transilvânia foi um ataque de lobisomem em um dos meus treinos com Symon. Ele foi incrível, sem dúvida. Conseguimos abater a criatura, mas não sem antes ela arranhar Symon. Eu saí coberta de hematomas, mas nada se compara a ter a maldição de se transformar involuntariamente. Eu sabia o que viria em seguida e, atendendo a um pedido do meu mestre, o matei enquanto ele ainda era humano. Foi triste, mas foi necessário. Eu tinha 18 anos. Não deixei de treinar, mesmo sem Symon. Pelo contrário, era algo que eu fazia por ele, e por minha mãe. Rumores de que haviam esse tipo de criaturas nos reinos vizinhos chegaram até mim e então, despedi-me de meu pai para poder ir até onde estava minha sina.
Eu sentia isso, sabia que não serviria para ter o trono do Império, e nem era algo que eu queria. Tenho o espírito aventureiro de meu pai e meu avô, ao menos foi isso que Sir Éron me disse ao se despedir de mim. Ele ainda está vivo, mas longe... O importante é que ele está bem.
Não vim para a Transilvânia buscando vingança, até por que isso é algo que não me atrai. Vim para a Transilvânia por instinto, para servir. Ouvi dizer que tinha uma família de caçadores, os Valerious, respeitados pelo meu povo e minha curiosidade era maior do que qualquer escrúpulo que eu tivesse. Acho que o melhor é que na Transilvânia ninguém conhece minha origem, ponto para mim... ou não. "